Petroleiros alertam que política de preços da Petrobras também eleva o risco de desabastecimento
Nos últimos anos, a Petrobras vem reduzindo a produção interna de combustíveis, inclusive com a privatização de refinarias, e no último dia 19/10 afirmou, em nota, que não deve conseguir atender a todos os pedidos de fornecimento de combustíveis para novembro. A estatal alega que “recebeu pedidos muito acima dos meses anteriores e de sua capacidade de produção”. Na comparação com novembro do 2020, as demandas por diesel e gasolina aumentaram 20% e 10%, respectivamente. A Agência Nacional do Petróleo (ANP) afirmou posteriormente que “não há indicação de desabastecimento no mercado nacional de combustíveis, nesse momento”.
No entanto, a Federação Nacional das Distribuidoras de Combustíveis, Gás Natural e Biocombustíveis (BrasilCom) havia avisado na semana passada que “as reduções promovidas pela Petrobras, em alguns casos chegando a mais de 50% do volume solicitado para compra, colocam o país em situação de potencial desabastecimento”. A BrasilCom disse ainda que seria impossível compensar essas reduções pôr da importação, já que os preços no mercado internacional estavam ainda mais elevados do que os praticados no Brasil.
Os petroleiros alertam
Há mais de quatro anos, que a política de Preços de Paridade de Importação (PPI), implementada no governo Temer e mantida pelo presidente Bolsonaro, vem acarretando uma redução do refino de combustíveis pela Petrobras. De acordo com a Federação Única dos Petroleiros (FUP), nos últimos anos, o fator de utilização de refinarias brasileiras (FUT) caiu de 94% para 70%.
Na definição do PPI, a principal baliza é o preço do petróleo no mercado internacional, cotado em dólar, portanto, na última segunda feira (18), o barril de petróleo do tipo brent fechou cotado a US$ 86 dólares, mais alto valor nos últimos três anos.
Trata-se de uma política adotada para privilegiar os interesses dos acionistas da estatal. Em agosto, a Petrobras anunciou o pagamento de R$ 31,6 bilhões em dividendos. Deste montante, R$ 12,8 bilhões ficaram na mão de investidores estrangeiros, que detêm mais de 40% do capital da Petrobras. Os acionistas privados brasileiros ficaram com R$ 7,7 bilhões. O restante (R$ 11,6 bi) foi direcionado ao caixa do governo federal e ao BNDES.
Nesse sentido, a Petrobras também vem adotando um programa de desinvestimento, que tem como foco principal a redução do parque de refino. Em agosto, a estatal assinou contrato para a venda da Refinaria Isaac Sabbá (Reman), em Manaus, ao grupo Atem, por US$ 189,5 milhões. De acordo com o Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), a Remam foi vendida a 70% do seu valor real. Em fevereiro, foi a vez da Refinaria Landulfo Alves (Rlam), na Bahia, vendida a um grupo árabe por menos de 50% do seu valor.